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Sonho às vezes se congela e fica ali, no fundo do peito, aparentemente esquecido ou servindo de enfeite pra novos sonhos. Difícil é quando a estátua do sonho inesperadamente cria vida e toma conta do resto ou afoga o que já tinha se construído sobre ela. Devasta tudo o que conseguiu sobreviver na presença daquele desejo cristalizado, convivendo com algo que nunca foi, mas deveria ter sido.
Sonhos nem sempre são bonitos ou parecem contos de fadas; e muito menos sempre têm finais felizes. Um sonho com gosto de inalcançável é daqueles que ocupa um lugar especial lá no memorial de sonhos. Um sonho com gosto de inalcançável e que carrega consigo muito mais que fantasias infantis é daqueles que cristaliza mas não se conforma nunca com sua condição de ‘pra sempre sonho’. Mas também não consegue imaginar como seria se não o fosse, muito menos supõem tudo o que devastaria numa mudança de estado repentina.
Quando um sonho desse tipo -que toma conta de corpo, mente, alma...- esquece de ser sonho e resolve ser marca, se satisfaz do seu estado latente e constante. Fica ali, inesquecível e sensível ao toque, seja ele físico ou de outra natureza qualquer. E quando a marca esquece de ser sonho, ela se torna fruto do delírio. Um delírio que dá medo, sim, mas que leva à possível transformação do sonho-marca em natureza concreta.
A transformação é incerta e, sem dúvidas, confusa. É devastadora e indescritível. O prazer no qual a marca-sonho se transforma é assolador. Seja pela sensação de totalidade ou pela sensação de poder, descobrir que um sonho foi desfeito e deu origem a outro(s) é engrandecedor para qualquer alma. Descobrir que o que a incerteza transformou em supostamente utópico é nada mais que sonho cristalizado é prazeroso o suficiente para que os sonhos se rearranjem.
Agora os ângulos mudaram, é verdade. Mas os sonhos talvez não.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
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